Adoro a chuva, gosto da sensação que sinto quando chove, gosto mais ainda do cheiro de chuva. Me lembro de ouvir música quando chovia. É uma terapia de regressão recordar as caudalosas chuvas que vivi em minha infância, um magnetismo me puxava ao seu encontro. Recordo o pequeno terraço na casa da minha avó, eu recostada no parapeito gritando encantada para o cenário, depois voltando o olhar pidão para minha mãe numa espera longa e ávida por um aceno positivo. O espetáculo digno de nota me abraçava. O vento uivava como um lobo soprando meus cabelos e molhando meu rosto com os pingos da chuva que eu lambia, adentrava em mim numa troca perfeita e quase me levantava de tanta força. Eu pisava as poças d'agua ao encontro da enxurrada e descia na avalanche cor de barro transformada em córrego, nadava e boiava mais de cem metros dentro da correnteza suja; mas meu deleite era lei. Por vezes as gotas doía nas minhas costas, mesmo assim era sensacional sentí-las tentando desviar-me delas, e a liberdade se fazia. Corria na chuva, e cantava e cantava. Ficava leve. E quando minha avó não me deixava tomar banho de chuva, eu tristonha, ainda assim, não abandonava o filme. Admirava e contemplava o cair das gotas da torrente, os pingos tortos pelo vento que soprava, a sonoridade da chuva no telhado, a paisagem completa. É escandalosamente mágica a sensação que a chuva exercia e até hoje causa em mim! Adoro apreciar o chuvisco, as gotículas descendo na janela, os pingos grossos caírem das folhas afogando a sede do solo. É fascinante acompanhar a água deslizando sobre o caule das árvores prometendo boa colheita. Todavia os relâmpagos me encantavam e os trovões me acuavam mas mesmo temendo o ensurdecer dos trovões, e quanto mais o barulho dos trovões me limitava, mais me aconchegava o cantar da chuva ao transar com o vento. É uma espécie de assovio, um coro de promessas na esperança de dias melhores, de um amanhecer ensolarado. Nada como andar na chuva pisando na areia, nada melhor que sublimar o céu em tons de cinza chumbo clareados por raios poderosos, olhar as palmeiras num balé sincronizado, as folhas das árvores dançando ao cair, as saias das bananeiras esvoaçantes. A chuva controla com sua força a natureza, tem um sentido de otimismo, de fecundidade, de se opor à seca. O dia nublado e chuvoso rega as plantas e contraponta o sol que depois nasce para alimentá-las de luz; um não existe sem o outro. Algo como recomeçar o novo ciclo. A chuva que traz o verde, os frutos, a renovação. E ao voltar no túnel do tempo vejo a cena, em cor sépia, eu, esquelética, só de calcinha pulando saltitante na chuva, minha avó Nenem na cozinha fazendo doce de leite, de banana, de cajú e biscoitos efes-e-erres, o gato Chano no pé da mesa, o cachorro Rex dormindo no alpendre, sinto o cheiro do café fresquinho, ouço o som da xícara no pires, e as vozes das minhas tias alvoroçadas conversando e ouvindo uma espécie de ópera, Elvis e outras canções, minha querida tia Didi lendo deitada na cadeira de espaguete azul, meu avô na rede tirando uma sesta e, naquele momento todos definitivamente felizes com a simplicidade da vida. Nesse rememorar um rio de lágrimas vaza em mim. A chuva tira o pó e lava a alma.
terça-feira, 31 de outubro de 2006
sábado, 28 de outubro de 2006
Madrid, meu êxtase


quarta-feira, 25 de outubro de 2006
Toledo, Patrimônio da Humanidade


domingo, 22 de outubro de 2006
Se pudesse caminhar sobre essas águas

quinta-feira, 19 de outubro de 2006
À caminho da Mãe de Águas Profundas:Madrid

Hoje choro de saudade da minha linda Cacá, que voltou para a sua vida, para o seu marido, para a sua casa.
Amor,
mãe, pai, piú, pedo
quarta-feira, 18 de outubro de 2006
Um Tema Inesgotável: O Amor

terça-feira, 17 de outubro de 2006
A leitura e a sombra, RENOIR
Duas mãos postas são sempre tocantes

segunda-feira, 16 de outubro de 2006
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