quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

A gota que corre em meu rosto é plasma

Será, por favor, que você pode, ter a fineza, de nunca mais assentar em meu coração?

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

A melodia que embalava..

Sairam todos. Era noite. Estava deliciosamente eremita. No incensário o Lótus do Nilo dissipava-se no ar. As estrelas desmaiaram e trouxeram o céu púrpura. O barulho da chuva teimava em agradá-la. O vento soprava cortinas imaginárias. Pisava descalça brincando com o chão gelado. A umidade entrava na boca -absoluta- sem pedir licença. Todas as luzes artificiais desligadas salvo a luz difusa âmbar que irradiava o fosso. No DVD, "Os Monges Budistas" tocava. Acompanhava o som com voz gutural, modulava e a cada nota entoava um mantra. A música invadia a sala, seu coração, sua alma e todos os espaços da casa; na canção que bailava, virava-se do avesso. Foi tomada pela sonoridade suave e acolhedora tragando cada segundo, um misto de ansiedade atravessava as paredes frias misturando-se a noite febril da PAZ que engolia o ambiente. E em seus pensamentos soltos espalhados, se perguntava: Para onde vai a melodia depois que a ouvimos? Existiria vida sem música?

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Névoa em The,

Foto: Lisboa - Portugal É noite ao meio dia, a cidade está uma verdadeira réplica de Avalon, a bruma cobre árvores, casas, postes e prédios detendo o meu campo visual, o frescor úmido da brisa abraça o meu humor, sorvo em pequenos goles saboreando cada mudança de vento, mas o punho não quer obedecer a minha inspiração. Cidade desabitada, é carnaval. Só enxergo a névoa imaculada na claridade cinza suplicando renovação. A chuva pisa o chão como um relógio que marca o tempo, respinga nos meus pés sedentos, mata-me a sede pelos poros. Meu egoísmo não me permite perder um só segundo do acontecimento; o escorrer da água no telhado formando bicas, o choro do céu decidido a varrer a rua, a limpar o mal; é como se dissesse: "Ainda tem jeito, nunca desista da natureza. Preserve-a!" No chumbo homogeneizado em neblina, uma grande nuvem esfumaçada e pálida embrulha e borda as árvores com seu manto branco, é quase uma cópula. Não sei definir como realmente me sinto hoje, sou uma eterna vassala da paisagem, ela exerce uma influência poderosa sobre mim, é uma espécie de melancolia sublime que acende meu sorriso, enche meu peito de felicidade, faz cócegas no coração, parece me deixar leve ao ponto de voar, dar cambalhotas, cavalgar no ar até fundir-me com a atmosfera. A sensação é cósmica. Tímidos trovões se misturam a musica do firmamento, lembrei-me do filme "Cantando na Chuva", um convite irrecusável a abrir minhas janelas entrar debaixo feito criança e engolir o céu.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

grandes pais, melhores avós

Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...
Cinquenta anos, cinquenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações — todos dizem isto embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto — mas acredita.
Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meus Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aquelas crianças que você recorda.
E então um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis — aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho certeza que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. Aliás, desconfio muito de que os netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos.
No entanto — no entanto! — nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, a rival: a mãe. Não importa que ela seja sua filha. Não deixa por isso de ser mãe do seu neto. Não importa que ela ensine o menino a lhe dar beijos e a lhe chamar de "vovozinha", e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais.
Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante dos triângulos conjugais.
A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o. Embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.
Já a avô, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, "não ralha nunca". Deixa lambuzar de pirulitos. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café — café! — mexer no armário da louça, fazer trem com as cadeiras da sala, destruir revistas, derramar a água do gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser e até fingir que está discando o telefone.
Riscar a parede com o lápis dizendo que foi sem querer — e ser acreditado! Fazer má-criação aos gritos e, em vez de apanhar, ir para os braços da avó e de lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna.
Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém esses prazeres não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós, com os seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto. E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: "Vó!", seu coração estala de felicidade, como pão ao forno. E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o castiga, e ele olha para você, sabendo que, se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade e apoio... Além é claro das compensações....
Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho — involuntariamente! — bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois, o sorriso malandro e aliviado porque "ninguém" se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó?
Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague.
Texto de Raquel de Queiroz

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

o inferno é o homem..

.. Não mais que de repente, todos no carro, mãe, irmã e irmão pequeno.. bandidos.. assalto.. susto.. medo.. desespero.. terror.. barbárie.. selvajaria.. desgraça.. tragédia.. o carro voa com o garoto sendo arrastado.. jornais, revistas, internet e programas de TV conceituados explodem a notícia.. entrevistam os pais em cadeia nacional.. corações desfacelados.. sem sopro de esperança.. pessoas destruídas.. almas dilaceradas.. sonhos esmigalhados.. sensacionalismo.. IBOPE! IBOPE! IBOPE! .. E o cotidiano é engolido vertiginosamente., segunda, terça, quarta, quinta, fevereiro, julho, dezembro, dois-mil-e-oito, dois-mil-e-dez, dois-mil-e-treze... E., a vida continua. FIM! .. Não é de café nem de viajar para Palma de Mallorca ou ler um bom livro que preciso; quero que o mundo queime a trezentos graus, que chova ácido, que a luz do sol apague, que estoure outra bomba atômica, que o mar avance todas as cidades, que o oxigênio seja rarefeito, que um planeta se choque com a terra, que todas as vozes do universo vocifere e rompa suas cordas vocais, que bons e maus afoguem-se em seus vômitos, quero que devaste a natureza humana. .. Talvez a humanidade não tenha salvação!!! Xiiiiiiii.., acho que ouvi essa frase dia desses. O inferno somos todos.!

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

para 2007..,

Decisão tomada! Fazer mais, falar menos. Fechada para balanço. Ponto.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Embrulhado na memória

Na rede da varanda,
Lânguida, contemplativa, Abraçada pela brisa, Congelada como numa fotografia, Se embriagava pelo coro cadenciado que descia do céu, Embalada na canção do jazz melodioso e quente, Decifrando o vento que trazia o coaxar das rãs, Bebendo o avesso do calor de todos esses dias, Com a retina perdida nas folhas que dançavam, Nos pingos que deslizavam das árvores. Pensamento desocupado.
Lembranças soltas. Sem platéia. Sem palavras. Sem culpas. Vivendo aquele momento ermo. Admirando a festa dos seres alados, Submersa na luz densa da noite, Mergulhada na sua paz interior. Agradecida a bela natureza. Por que viver era humanamente mágico. Bastava estar atenta..

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Embriaguez..

EMBRIAGUEM-SE
É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão.
Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina
para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio,
sobre a relva verde de um fosso,
na solidão morna do quarto,
a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar,
pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta,
a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela,
o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se!
Para não serem os escravos martirizados do Tempo,
embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso".
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
(Charles Baudelaire)

Eu

Simplesmente Selena