quinta-feira, 10 de julho de 2008

Um Encontro Com o EU

Não sei se alguém já pensou ou disse alguma vez que os livros não precisam de nós, ou seja, somos nós que precisamos deles. Falo por experiência própria, preciso dos livros para manter minha sanidade mental, eles me salvam de mim, do meu próprio perigo. Quando leio, algo que não sei explicar mexe comigo e com muitas das minhas verdades; a mente traz o acontecimento para perto de mim, mas é o capricho imaginativo que lava minha alma com água e sabão.

Quando os livros estão na prateleira sinto que me aguardam, querem ser tocados, folheados e, humildes, me instigam ao pensamento... Há uma troca de mim para o livro e dele para mim. Tenho me dedicado bastante à leitura ultimamente, quando não estou a ler um livro, agonizo; se não me entrego às letras, definho. Apetece-me fiar o olhar na negridão contrastante ao papel que tece o curso dos fatos.

Ler é o momento mais privado, solitário e prazeroso que existe. Às vezes esta experiência tão forte chega a ser física, posso experimentar desde taquicardia, uma grande felicidade ou um dilatado pesar. Há livros que massacram, devoram, lapidam, mas de alguma forma deixam ensinamentos. Incorporo-me à história com a fiel sensação que adentro cada página como se ultrapassasse uma porta secreta, todavia gosto do livro que dá prazer, que possa por momentos habitar todas as células da minha carne, se a leitura não me agrada a deixo de lado sem me sentir culpada. Livro não combina com culpa! O livro é o passaporte para a verdadeira liberdade...

Não considero nenhum invento maior em toda a história da humanidade tal o livro. Ao ler vôo para onde me pede a leitura, transformo-me em uma pessoa totalmente franqueada, deixo-me aqui na terra para ser a outra que preciso ser. Então, cedo-me por inteira e debruço pela janela das folhas acompanhando na horizontalidade das letras o imbricar das paisagens... eu vejo e sinto a história.

No final de 2007, reli pela segunda vez: “VIA LÁCTEA, Pelos Caminhos de Santiago de Compostela”, de Guy Veloso. Sem dúvida é um dos melhores livros da minha vida! Não menos que 190 páginas em uma viagem colossal de 800km a pé, onde o autor cruza a rota ancestral de peregrinação cuja se estende pela Península Ibérica até a cidade de Santiago de Compostela. Momentos encantadores e bem descritos em toda reflexão que a mesma implica. O enredo ímpar é de uma alegria poética capaz de transportar-nos como um forte espectador a cada pueblo medieval, a cada pedra ou terra do caminho percorrido, mas principalmente ao autoconhecimento do peregrino. A história envolvente harmoniza mente e espírito, coração e alma. Mas, acima de tudo, têm o poder de nos levar a contemplar um homem determinado a fazer companhia de si para si: percebendo-se a cada pegada, a cada comunhão com os elementos da natureza, a cada busca ao justo sentido das coisas, a cada sensação de déjà vu, e, ao verdadeiro sentimento panteísco... uno.

Eu

Simplesmente Selena