Esta é a tentativa de capturar o curso da minha história. Neste (Co)existir me misturo com pessoas, palavras, olhares, sensações, livros, música, arte, o sol, o luar, o choro, o grito e o riso. A intenção é boa. Vou aprendendo a partir das lições que a vida me presta. Aqui você vai encontrar pensares, lugares, repescagens, emoções, coisas e causos. Se é relevante? Talvez. Na verdade escrever é que é viciante. Bem como ser lido. E agora? Estou viciada! Seja bem vindo e desfrute comigo. SELENA
sábado, 29 de março de 2008
Das coisas do Escitalopram?
Dia desses tive um sonho estranho. Caminhava por uma plantação de papoulas, parecia uma pintura impressionista, daquelas de uma beleza esmagadora. Ventava forte. O jardim campestre ondulava um mar cor de fogo que, de tão vivas, pareciam conversar umas com as outras. A paisagem da qual minha vista não alcançava, me engolia. Deslizei as mãos na delicada imensidão das flores, a textura me deixava sem fôlego, me enchia o peito de alegria. Corria, corria sem parar e desarvorada me permitia aquele momento. E quanto mais corria e me perdia mais eu me sentia segura. Havia paz por todos os lados, uma liberdade cortante. Não tinha medo de me embrenhar, me jogava pelas hastes das plantas que, mesmo frágeis, me amparavam como um macio lençol de cetim. Era boa a sensação de tocar o viço dos galhos e das pétalas e me enveredei no contraste das cores. Percorri quase voando o tapete seda até conseguir transpor todo aquele oceano rubro, onde me deparei com um abismo medonho. olhei para baixo e avistei uma profunda escuridão. Me arrepiei dos pés à cabeça. Lancei meus olhos adiante e vi do outro lado do penhasco um velho de barba grisalha falando algo que não compreendi. Olhava como um raio X cada átomo do meu ser. Imediatamente fiquei paralisada. Gelei. Acreditei estar encrencada e pensei: estou liquidada, ele vai me matar! Ora bolas.., de tanto passear pelo paraíso deparei-me em seguida com um despenhadeiro e do outro lado um velho sentado numa pedra brilhante. Meus olhos congelaram. Ele falava amenidades com voz calma e compassada, mas eu não conseguia decifrar uma só palavra. Afigurava-se a um eremita. Chamou-me pelo nome e o medo se foi, subitamente como na fantasia. Não mais que de repente, consegui decodificar e entender claramente o que me dizia: “Selena, que se dane a margem que dá para o abismo. Seu corpo dói, seus pés doem, então voe, solte-os, descole-se do chão. Coragem! Atreva-se. Salte, salte mulher!”. Depois que o ancião me impeliu a saltar, uma força me arremessou no vácuo. Naquele momento acordei. Que pena!, nem conversei com ele, perguntei coisas ou toquei sua mão.
Posso vender minha imagem bem legal, isso me faz diferente e apresentável, mas será que seria de todo, ética?! Pois é.., então vamos: adoro apreciar pintura, posso não entender, mas meu coração sente. Tenho saudade da infância no interior, me lembra meus avós. Para este momento escrever é meu ofício, a palavra é minha flecha, todavia não quer dizer que vou ferir alguém. Gosto de conversar. Amo viver! Tudo que acontece na vida é bom, até os desencontros. Falo pelos cotovelos, me derramo demais. Não é nada difícil iniciar uma boa palestra com alguém que acabei de conhecer. É ligeiro bala! Até mais do que deveria ser. Penso que a solidão também pode ser bela. Gosto de momentos meus. Já borrei meus cílios na negridão da noite. Não gosto de falar só o trivial. A paciência as vezes não me visita. Gosto de gente inteligente. Adoro liberdade, viajar e visitar museus, eis o meu balão de oxigênio. Se pudesse conheceria o mundo, este é meu sonho de consumo.
Quase gosto da vida que tenho, e estou aprendendo a desfrutá-la em toda a sua singeleza, sem cobranças nem idealizações.