A chuva veio e deu de beber a um jardim de recordações. Nas cores das minhas lembranças um matiz dourado envelhecido e charmoso. Era julho e o vento cortava meu rosto e meus ouvidos arrastando a poeira da pracinha. Vejo a cena como se fosse ontem: eu dentro de um vestidinho monocromático alaranjado e um belo rabo de cavalo cor de crina a fazer par com a seda do vestido, Patrícia de azul-marinho de puá contrastando os seus lindos cachos de ouro e sua pele pálida, seu vestido parecia um crepúsculo estrelado de bolinhas luzidias tal um pisca-pisca. Josi, ainda bebê, de azul celestial bordado com florzinhas pequeninas -em ponto cheio- na pala; a cor do vestido acentuava ao azul de seus vivos olhos grandes. Meus irmãos de botas e shorte de linho marrom e blusa branca com gravatinha borboleta, todos banhados e devidamente arrumados, cabelos bem penteados com gel, nas blusas bem passadas o azul do anil era o pano de fundo da limpeza, todos impecáveis, e nosso cheiro denunciando alfazema. A casa tinha uma atmosfera alegre e viva. Na varanda a cor-de-vinho das onze horas explodia em meu olhar que ecoava o acontecimento. O olor que se espalhava por todos os lados chamava-se ‘ventura’, era um cheiro de descanso, de regozijo, de unidade. Festa até para os cachorros da rua, pois sentiam a aura diferente e animada. Os objetos simplórios do nosso lar jaziam na espera de serem usados. Todo o aparato que se fazia traduzia a chegada do Padre da comunidade, que era o convidado de honra para o almoço de domingo; mesa posta, toalha de richelieu alva e engomada respaldando o banquete: vatapá, o prato principal, galinha caipira a agregadora da nossa família, e de sobremesa o pudim de leite; este me levava ao regalo dos céus irrompendo doçura no véu da boca, mas depois me jogava no limbo, pois comia escondido. E de castigo pelo ato clandestino seis bolos de palmatória nas mãozinhas do gato ladrão. O domingo pomposo era um dos poucos do ano para meu deleite mor, singular e intransferível. Eu era trezentas vozes a gritar a palavra ‘felicidade’, completamente deslumbrada, saltitante, abestalhada com a figura ilustre que oportunizara o nosso contentamento. Tão simples e tão feliz. Foi há trinta e três anos.
Selena,
E a doce menina fez nevar a lembrança, e as estrelas brilharam opacas la fora, distantes de nós e perto dos sonhos.nas entrelinhas o desembaçar. recordar é viver!inunda a alma. voltou selena, magnífica!
ResponderExcluir"eu dentro de um vestidinho monocromático alaranjado e um belo rabo de cavalo cor de crina a fazer par com a seda do vestido, Patrícia de azul-marinho e puá contrastava aos seus cachos de ouro e sua pele pálida, seu vestido parecia um crepúsculo estrelado de bolinhas luzidias, tal um pisca-pisca a explodir em meus olhos. Josi, ainda bebê, de azul celestial bordado com florezinhas pequeninas -em ponto cheio- na pala; a cor do vestido acentuava ao azul de seus vivos olhos grandes. Meus irmãos de botas e short de linho marrom e blusa branca com gravatinha borboleta, todos banhados e devidamente arrumados, cabelos bem penteados com gel, nas blusas bem passadas o azul do anil era o pano de fundo da limpeza, todos impecáveis, e nosso cheiro denunciando alfazema"
ResponderExcluirsem comentários. belo!
Tão melancólica...
ResponderExcluiraté que enfim atualizou isso aqui, hein?
Abraços
As cenas do texto parecem daquelas caixinhas de música,se pega com carinho e ternura nas mãos, dá a corda depois a sonoridade da musica nos sons suaves, as lembranças, depois se sente saudade, fecha a tampa da caixinha e guarda dentro de si.PARABÉNS SELENA!
ResponderExcluirNoooooooooossa adoreeeeeeeeeeei!!! A sandra acabou de me falar no msn q atualizou o blog. Ocê anda parada minha filha!?
ResponderExcluirTuas origens e tuas lembranças a vagar.. enchi olhos de lágrimas Selena. Tão linda e tão misteriosa essa vida! bola pra frente..
ResponderExcluirSeu texto me tocou ao ponto de sentir a chuva na minha pele. Muito bonito. belas recordações.
ResponderExcluirCrescer pra q? Ser mais n se esquecer jamais da infância;suave viagem ondulante soprada na mágica melodia das lembranças. Texto de todo belo,de todo intenso.., tudo de Ti.
ResponderExcluirBela nostalgia.Fico sempre à espera de ler seus textos, as vzs comento e agradeço, as vzs saio em silêncio.
ResponderExcluiragora AGRADEÇO!!!!!!!
Lindo!!!
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