sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

da reflexão..

Apetece-me festejar a época do natal, gosto da árvore, me traz boa saudade, era o momento crucial para ajudar minha mãe colocar os adornos e a manjedoura com o menino deitado, e mesmo ficando ansiosa me deliciava com a solenidade. Cada ano a gente melhorava nossa árvore, uma bolinha mais bonita, mais reluzente, ou maior. Esta sensação me dava frio na barriga, e só o fato de minha mãe dizer que já estava chegando o dia me trazia enorme prazer, pois em minha mente me tornava mais próxima dela e também me sentia útil, fora a alegria de remontar a árvore de natal., ah! esta era indescritível. Uma borboleta voava em meu estômago o tempo todo, e olhá-la no chão como se clamasse rapidez para ser enfeitada inflamava minha impaciência. Tinha um gôsto todo especial de cores, sons, luzes e cheiros, mas junto a isso vinham também sentimentos de liberdade, de esperança e de unidade entre nós, todos desejando-se boas festas e bom ano. Existia naqueles votos frescor, leveza, harmonia e um certo charme. Na verdade havia mesmo um sentimento sublime, algo como renascer, recomeçar, reavivar o espírito. Uma vontade que brotava de ajudar o próximo nem que fosse só com um bom-dia, um cafezinho, um tapinha nas costas ou um largo sorriso. Eram desejos bons e fiéis. Esta sensibilidade se sobrepunha a dureza do cotidiano, aos dissabores de viver, havia uma sentimentalidade mais aflorada nas pessoas, os corações se alargavam, pairava uma atmosfera de reciprocidade, criava-se um elo. Ainda percebo legitimidade a este sentimento nos dias de hoje, mesmo sendo menor que antes. E é este o período que mais me remete a frase célebre de Jesus Cristo: “Amem-se uns aos outros”. Entendo a palavra "amem-se" sem necessariamente ter que amar meu vizinho nem sofrer pelo problema dele, sem exageros, mas, o verbo, antes de tudo, quer dizer sentir compaixão pelo outro, pela humanidade, pelo planeta. Entretanto, este mandamento abençoado se aplica melhor a quem está em frente aos nossos narizes, e amar-se o outro, é não esquecer de amar essencialmente os seus, ou seja, os meus. É amando que não deixarei meu filho ser criado pelo mundo cão, nem por vídeos-game ou pela rede; é amando que não vou esquecer mais meu marido jogado às traças numa vida paralela a minha, vivendo a dois, mas solitários; é por bem amar que estou atenta às minhas filhas, por menores que sejam seus problemas. É por este amor incondicional que não deixarei minha família vegetar no decorrer do dia-a-dia sem uma palavra de aconchego. É por este amor que reciclarei meus valores para doar um momento sequer ao ente mais velho com minha palavra mais adequada; é por amar na justa medida que engolirei as palavras duras antes de ferir meu irmão ou quem quer que seja. É por este tão mal exercitado e precário amor que antevejo meus passos a fim de não cometer os mesmos erros. Mas, acima de tudo, é por este tão necessário amor que o quero a todo custo, seguro e fortificado, todavia que eu me lembre a cada instante de alimentá-lo. Do todo amor que não é garantido para sempre senão trabalhado e construído, um dia de cada vez. Repetidas vezes. E assim se fará o verbo.

Eu

Simplesmente Selena