terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Escrito em abril de 2009

Fotografia by Catarina Nery

À minha filha Catarina

Colo, mimo, carinho, cuidado, afeto, chamego, beijinhos... Era o que estava precisando, mais que isso, era uma necessidade vital para meu momento frágil e de mudança. Vim buscar aconchego, chorar em seu ombro se vontade tiver. Voltei para o cordão umbilical como filha, para os braços de Cacá; os braços que tanto aqueci. Vim filhar, mas também mamear. Convicta do lugar certo.

Há laços que são mais fortes que a vida. Hoje sou a criança de minha filha, por enquanto ela é a minha mãe, e seu colo equilibra a falta. Aqui fico longe de minha casa (tão querida), do olho do furacão. Aqui tudo é leve e colorido e parece não existir outro lugar na terra. Fico muito comigo e gosto de ser companhia de mim. Caminho, faço academia, leio, passeio, oro, rezo, reflito, aprendo, assisto TV em espanhol para entender melhor a língua, viajo pelas cidades da Espanha e de Portugal. Sem esquecer o que mais me encanta: a Catedral de Santiago. A missa tem um rigor antigo, os cantos gregorianos me seduzem (a acústica é irretocável), a homilia é um caso à parte, produz reflexão e renova minha fé.

Saí da minha responsabilidade para não fenecer, para reparar a carenagem, para me observar com melhor distanciamento. Às vezes, quando vemos o mundo por dentro de um enorme quadro e a nossa cama não mais acolhe como antes, nada como um lugar distante para neutralizar as dores, nada como um ombro fiel para ouvir o som da nossa lágrima, nada melhor que compaixão de filha. O abraço do rebento pode ser mais cinematográfico que um beijo apaixonado de uma película noir.

Eu

Simplesmente Selena