quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Venice, Venezia ou Veneza: ame-a ou deteste-a

Passa das quatro da tarde, estamos vindo de Firenze, e o fim da linha se aproxima, o trem já rasga as águas, uma cidade flutua na nossa frente: parada final; Veneza se desembrulha à nós. Saltamos rápido puxando as malas. Caminhamos ansiosos até a estação por uns três minutos. Nossos companheiros estavam impacientes e cansados, assim como eu e Caty. Estávamos uns cacos viajantes, ávidos por um banho e boa comida. E sem ainda acreditar pensei: És Veneza! Eles apreciavam as lanchas e veículos sobre a água ao longe. Fui então com a Catarina pegar o mapa da cidade. Enquanto ela ficou na fila, resolvi bizóiá as lojinhas de muranos -um tipo de artesanato em cristais próprio da região. Admirei os vasos coloridos e voltei, a Cacá já me acenava com o mapa na mão. Ao descermos as escadas ela nos perguntou como achávamos que seria Veneza da estação para frente, e a resposta foi em côro: água, muita água. Sim, um mini paraíso como ela me dizia bem antes de chegarmos. Catarina se emocionou ao rever sua tão amada Veneza.
Dali para frente só veículos boiantes. É minha primeira viagem nesta cidade. A sensação é diferente e eu gosto. Parece que há uma mistura de luxo decadente, exuberância, uma quase libertinagem e um ar de nostalgia. É um composto de contradição fascinante. Enxergo mais altivez em Veneza que o próprio romantismo tão mencionado pelos poetas. Esta é a percepão do estímulo que a cidade me lança.., e percebi logo de cara. Penso ser uma achona, tenho as vezes uma idéia meio onipotente de formar opinião. Mas é puro sentimento os meus achares. E penso também que pode ser uma forma poética de achar.
Na verdade, no dia da chegada eu me sentia enjoada e estava gripando; consequência de caminhar atrás da minha irmã Celina -que também viajava conosco- pelas ruas de Florença, sob um calmo e determinado chovisco de gotas gélidas. Foi um ponto a menos para a Bella Venice. De toda forma no outro dia me perdi pelos labririntos de suas ruelas, e é realmente atraente, mas não ao ponto de dizer que seja maravilhosa. Não, pelo menos para mim. Por alguns momentos a achei um tanto enfadonha, apesar de única. Pois é! A cidade se apresentou na contramão. Talvez eu estava as avessas e senti uma atmosfera melancólica. Ora! Lotada, nem tenho noção de quantos turistas havia, parecia formigueiro. Não a enxerguei em toda sua grandiosidade: limpa e viçosa. Só vi gente. De todos os paises. A maioria asiáticos. Os transeuntes se amontoavam a caminhar de um lado para o outro. Gente demais. Nossa!!! Acho que fiquei devendo a mim mesma uma nova visita a fim de tirar outra melhor impressão. E se um dia lá eu voltar, com toda certeza escolherei uma época em que esteja, de turistas, desabitada; se é que é possível.
Fotografei bastante, e não sei bem porquê para os meus olhos Veneza é verde esmeralda mais a câmera só a enxergou azul esverdeada. Além das fotos trago-a guardada na retina, consigo ainda me lembrar de lá: do passeio delicioso de gôndola, da claridade do dia, dos afrescos dos tetos dos palácios, da arquitetura, do murmurado canto gregoriano que soava na igreja, do céu delirante, de tudo tudo..
Trocando em miúdos, Catarina afirma que só existe uma palavra que defina Veneza: Apaixonante. É a singularidade do olhar de minha filha acerca da cidade. Nesse caso, quem sou eu para contestar?! Entonces, se estiver de passagem pela Itália, não deixe de conhecê-la. Afinal é o lugar mais inverosímil do mundo.
Me bebi de Veneza de suas manhãs e de seus entardeceres. Contudo, no lúcido anoitecer da La Serenissima, no terceiro dia, tomei um táxi aquático em direção ao aeroporto Marco Polo, e despedi-me agradecida, mas com a sensação de não ter descido redondo. Quiçá uma outra vez.

Eu

Simplesmente Selena