quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Há dias assim...

Saudade louca, desarvorada, ensandecida, desorientada, que olha ao longe, transborda e se mistura com o éter. Saudade da época medieval, das pedras largas do castelo espanhol que não morei, da janela que não debrucei, da música sacra que jorrou pelas paredes que não ouvi. Saudade do por-do-sol de Santorini, do banco da praça que nunca sentei, das mãos que não toquei, do sorriso que nunca vi, do olhar que não troquei, da rosa que não recebi, da flor que não beijei. Saudade do tempo jurássico, de não ter visto um pterodátilo réptil com toda sua supremacia voando os céus. Uma saudade de tudo e de nada, que não comporta em mim nem em outro lugar. Saudade do som e do silêncio do espaço sideral. Saudade do passado e do futuro, das galáxias, dos planetas que possam ser habitados, das estrelas e da lua, da poeira cósmica, do fim e do príncipio. Uma saudade de alguém e outra de ninguém. Da pluralidade fronteiriça do meu sentir se espalhando ao vento, mas que não conhece como ser singular. Uma saudade que vaza... ausente, descomunal, louca e irrepreensível. Que é e não é minha. Saudade de ser o que sou e ser diferente no que faço. Dos meus pedaços olvidados por aí, perdidos nos períodos de minha vida. Daquela casinha de palha que deslizei. Da menina colhendo guabirabas naquele dia cor de ouro velho. Saudade larga sem tamanho nem profundidade, híbrida, sem lei natural, dramática, completamente espetaculosa e nonsense. Saudade de não ter conhecido e conversado com o sábio Rei Salomão. Saudade de um momento, de um gôsto, de um cheiro, de um abraço... tão minha... que sofre de insônia, que não sacia e me rasga a pele, no entanto, junta-me, aparta-me e entra novamente em mim. Saudade acoplada, embutida e impiedosa... que é pouca e é tanta.

Eu

Simplesmente Selena